Foi dia da mãe

E tu não estás. Ou estás? Apanhei-te flores. Porque tu gostas e porque ainda me lembro de o fazermos quando eu era pequenina na Foz. Não estás e, ao mesmo tempo, estás em toda a parte, é engraçado. Também quero lá saber que tenha sido dia da mãe. Este ano, tem a ironia de ter coincido com o dia do trabalhador. Até pus uma foto tua a ceifar nos campos do teu Alentejo, muito nova, anos antes de casares. Que idade terias? O que vos passaria pela cabeça? 

Que sonhos alimentavam? Lá atrás, está o capataz, também a olhar para a objetiva. Quem terá tirado a foto? O mais engraçado é que encontrei a original ou o que será uma das cópias originais ontem, numa carteira tua, que trouxe quando chegou a hora de tirar o que queria da nossa casa de Abrantes. Da tua casa de Abrantes. 

Tenho perguntado coisas sobre ti às pessoas, sabes? Coisas. Que querias da vida quando tinhas 17 anos. Quando eras pequenina. Coisas que, se calhar, até me disseste, mas na minha ignorância da juventude, não ouvi. Querias estudar mais, sei disso. Eras muito inteligente. Não havia dinheiro. O resto, só tu saberás. Foste a nossa mãe-trabalho. Mais que tudo, foste a minha mãe-milagre. Que do nada fez tudo. Moro no campo, agora. De percebi, finalmente, do que vim à procura. Foi de ti, mãe. Porque tu estás aqui. Estás, como sempre, em todo o lado. Eu é que consigo ouvir-te melhor aqui. Até há um daqueles búzios que tu tocavas. Há tudo.   

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