Patrícia. Uma tentativa de dizer-te

Como é que eu digo esta mulher? Um espírito livre, como a definiu com alegria uma outra alma grande das nossas vidas? Sim, cabe muito nessa definição. Porém, há pessoas que não cabem no vocabulário, por mais combinações de palavras que procuremos. São só enormes. Aquelas pessoas nossas, raras, cada vez mais raras à medida que os anos vão passando até se tornarem décadas. Digo-o mas sei que é parvo. A definição certa é 'uma daquelas pessoas especiais'. Como a Patrícia.

Atravessámos tantas fases da vida nós as duas, os momentos na montanha e os do abismo, vivemos aventuras, caímos, desaparecemos. Levantámo-nos. Agradeço os dias todos. Os assim-assim. Os do riso e os do choro. Os dos café intermináveis, os dos passeios no mato, os das tardes de compras, também elas intermináveis. As noites do luto, os dias da esperança. É difícil definir a nossa amizade e talvez não seja suposto. Sei apenas que o melhor da vida é ter o privilégio de me encontrar contigo. Saber, de algum modo, sem falar, quando há medo, quando precisamos de um afago, quando estamos irritadas, quando sorrimos por dentro. Quando descobrimos algo. Quando queremos desistir. Quando brilhamos.

És uma alma grande, daquelas que nos mantêm apaixonados a vida inteira. Daquelas para onde queremos correr quando nos acontece uma hecatombe pessoal ou quando estamos no melhor momento das nossas vidas. Para mim, tu tornas tudo isto de andar cá em baixo, a pisar o mesmo chão, mágico. Um milagre. 

Desde que nos encontrámos, num dia qualquer banal de agosto de 2006 (que afinal de banal não tinha nada), ambas vivemos momentos daqueles que nos roubam todo o brilho do olhar. Que nos tiram o chão. Mas, em todas as minhas quedas, foste chão, foste casa, foste amor. Foste colo.  Como é possível haver alguém que nunca desiste de nós, mesmo se nós o fazemos? Essa és tu para mim. E só posso dizer-te para mim. 

Aquela pessoa de ar absolutamente diferente que encontrei na redação do Sol, de cabelo curto, loiro, e olhos azuis verdes com toda a vida do planeta, é, passadas quase duas décadas, milhares de cafés, de viagens em que me foi mesmo apanhar do chão, de encontros, chamadas, mensagens, discussões, conversas tontas, aventuras, parvoíces, doenças, perdas, teimosias, milagres, nascimentos, a minha amiga, a Patrícia. 

Por isso, passe o que passe, agradeço a loucura destes anos, a generosidade enorme, total com que sempre me acolhes e me procuras. A humildade, a honestidade. A teimosia, de novo. Só posso dar-me como sortuda por fazer parte do teu caminho, minha querida Pat. Obrigada por colorires tudo. E por te levantares e, contigo, as pessoas que amas, muito para além de mim. Por me ires sempre, sempre, sempre buscar na tempestade. Mesmo quando te falho e digo que não tenho mais forças. Obrigada pela luz que dás ao mundo de cada vez que abres os olhos. 

Parabéns, meu espírito livre, minha querida Patrícia. Adoro-te.


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