Lola, a Ema diz Lola e a Lola já cá não está
Faz hoje um mês desde a morte da nossa Lola, a cadelinha que tanto amávamos e adorava as minhas filhas. Ainda é tão absurdo, tão impossível ter acontecido. Chegou à família há seis anos. É Abril, fui buscá-la em Abril, para embalar outras ausências. As vidas, às vezes é só... demasiado ridícula. A Lolichas foi envenenada no início de Março, algures num campo nos arredores das Caldas da Rainha, terra para onde nos mudámos à procura de natureza, espaço, ar para respirar, brincar, rir. No fim das contas, um de nós morreu. Como é mesmo aquele jogo infantil? "Passará, passará, mas algum ficará... se não for a mãe à frente..." Acontece às vezes na zona, dizem-me. As pessoas são capazes de tudo, alvitram vizinhas. Aconteceu a outros cães.
Tudo começou numa sexta-feira, dia 11 de Março, menos de uma
semana depois de termos chegado à casa nova. Ela e o Tango galgaram o muro e
fugiram. Voltaram não sei quando tempo depois. Ela a tremer. Já não saltou para
voltar, abri-lhe o portão, de vez em quando tremia. Estava estranha, molhada,
tinha estado a chover. Agasalhei-a. Pedi ao Rui para pesquisar veterinários nas
Caldas. Encontrámos um hospital. O Nobrevet. Liguei. Estava reativa. Fomos ao
final da tarde. A veterinária, que não
nos deu o nome, diagnosticou fadiga muscular. Depois de a avaliar, disse-me
que, na sua opinião, não valia a pena fazer análises, mas deixava à minha
consideração. Disse que era por ter
mudado de um apartamento para uma casa de campo, e agora andar a correr com o
Tango. Paguei a consulta, ainda comentei com o Rui que me esperava cá fora com
a Ema, que tinha sido mais barato que em Lisboa.
Mas, à saída, voltou a acontecer uma coisa que me alarmou: a
Lolita voltou a tentar vomitar e mandei chamar a veterinária, cujo nome ainda
não sei, não mo deram no hospital apesar do meu pedido de esclarecimentos e
não consta na fatura nem no relatório médico que pedimos já depois de ela
morrer, seis dias depois.
Volto à história, isto é difícil: A Lolita tinha espuma a sair da boca e fiquei em pânico, por lembrar-me de um cão que morreu também envenenado quando era eu própria pequenina. Mandei chamar a veterinária, foi assertiva: era por estar sem comer há muitas horas, era bílis. Insistiu no diagnóstico, fadiga muscular. A Lolita tinha esses períodos de falta de apetite em Lisboa. Indicou à recepcionista que fosse buscar uma lata de ração. A Lola praticamente não lhe tocou. E mandaram-nos para casa, sem análises. Disseram-nos que voltássemos se ela continuasse sem comer, se vomitasse. A Lola continuou sem comer. Vomitou. E eu, por estupidez, por uma tremenda idiotice e por falta de referências na zona, levei-a ao mesmo veterinário porque era de urgências.
Estava outra veterinária de serviço. E percebeu que ela
estava cheia de dores de barriga. Pancreatite. Falência renal. Análises para
confirmar. Internamento de três dias, soro. Muitos termos em linguagem
veterinária que não sei reproduzir. 200 euros de adiantamento. Faça-se. A Lola
foi para o internamento, para ficar boa, para voltar para casa. No dia
seguinte, liguei ao meio-dia, a hora em que disseram que nos davam conta do
estado dos nossos animais. Estava melhor, a reagir. Até tinha ido à rua.
Aceitava comida forçada. Acho que ainda liguei ao final da tarde.
Na segunda-feira, estava eu à espera de um medicamento para
a Ema, em casa com bronquiolite, e ligaram-me de um número desconhecido. A Lola
tinha começado a ter convulsões durante a noite. De repente. Em perigo. Não
sabiam o que ia acontecer. Se eu sabia qual o veneno que ela tinha ingerido. A
partir daí foi o inferno.
Vi-a duas vezes, uma a dormir, outra sentada. Tive medo que
voltasse a ter convulsões pelo entusiasmo de me ver e vim-me embora. O
veterinário, o único a dar-me o nome completo, tinha-me pedido para levar
frango cozido, que ela recusou. E achou melhor, dada a sua agitação, que ela não
me visse. No dia seguinte piorou. Tinha uma infeção, cuja origem nunca
descobriram. Fizeram-lhe uma transfusão de plasma e piorou. Teve uma hemorragia
pulmonar. Sugeriu eutanásia. E naquela quinta-feira, depois de pagar perto de
600 euros em dívida com a Nobrevet, ligaram-me a dizer que a Lola tinha tido
uma paragem cardíaca. Foi no dia 17 de Março.
A Lola fazia parte da nossa família. Faz. A Emita tem 18
meses e está a crescer a olhos vistos, todos os dias é uma aventura no mundo do
vocabulário. Diz Ta para referir-se ao Tango. Mas diz Lola perfeitamente. A Klau,
uma pessoa muito especial que acolheu a Lola antes de mim, quando ela foi
abandonada em pequenina no mato, disse-me que cumpriu a sua missão na terra
nestes anos, dar amor. É isso. Por hoje, isso tem de bastar.
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