Uma história de adormecer princesas (ou como a terapia do sono nos salvou as noites)
E pessoas que decidem ter mais filhos depois de tão medonha experiência? Isso sim, é coragem. É capacidade de resiliência e estoicismo. Não é salvar o mundo ou mudar a ciência. Não, é isto: decidir ter um segundo filho depois de uma experiência tão… difícil, sejamos honestos. Não é tudo rosas. Meeeesmo. Já para não falar na resistência, física e emocional, essencial para aguentar tão grande tormento. Ficamos com menos paciência. Para brincar, para trabalhar, para nos divertirmos, para conversar, para namorar. Para pensar. Para existir. Para sermos nós. Afinal, todo o ser humano precisa de dormir, é o adágio universal, certo? Uma necessidade básica. E para quem, como acontece comigo e com milhões de pessoas, tem problemas de sono, é pior (ainda!).
Bem, acho que chegou o tempo do disclaimer requerido por esta história. A bem da verdade, nos últimos meses foi sobretudo o pai da criança o sacrificado, o escravo a socorrer o choro incessante da sua princesa Ema, que só parava até lhe darmos o biberão. Não apenas não parava. Ia aumentando de volume. Isto de três em três horas, como um recém-nascido. Noite após noite.
Dito isto, tentámos quase tudo, também já o escrevi: pô-la connosco na cama, mas ela esperneava. Nunca gostou. Talvez porque se mexa muito. Deixá-la a chorar, primeiro três minutos, depois cinco, sete e por aí adiante. Dizia o livro recomendado por uns amigos do Rui que, se fizéssemos a coisa como deve ser, funcionava de certeza. Mas, convenhamos, quando estamos com privação de sono, é difícil fazer qualquer coisa como deve ser. Também experimentámos afastar o next to me cada vez mais, como nos diziam os pediatras. Dar-lhe água em vez de leite (funcionou uma noite, não mais), não fazer barulho a partir do momento em que a menina ia dormir (erro crasso). Tudo e um par de botas. Até porque na primeira parte da noite, até aí à meia-noite, ela dormia. Nunca chegámos a dar-lhe melatonina, como também nos sugeriram, por não ter a certeza de funcionar e das consequências em termos de desenvolvimento.
Finalmente, tinha já a Ema mais de um ano, o meu médico propôs-me, primeiro, mudar-lhe a alimentação à noite, e incluir alimentos com açúcares de digestão lenta, como massa ou arroz, por exemplo, para aumentar a saciedade. E… funcionou, ma non troppo. Sugeriu também outra coisa, da qual, vá-se lá perceber porquê, NINGUÉM nos tinha falado: levar a Ema a um terapeuta do sono.
Já descrentes de tudo o que era mezinhas, num mundo em que às tantas o nosso era o único bebé da sua geração a não dormir, ainda demorámos aí um mês a seguir o conselho. Sim, foi demasiado.
Desta vez, não era um “milagre”. Um terapeuta do sono é afinal um especialista como outro qualquer e pô-la a dormir ia dar-nos trabalho, avisou logo a médica que ouviu todas as nossas queixas sem as secundarizar ou insinuar apenas que era mesmo assim, normal, a Ema não dormir ao fim de tanto tempo de vida.
E a verdade é que está a funcionar! Funcionou até mais rápido do que esperávamos. Uma das melhores decisões que já tomámos, só vos digo. Não passou por qualquer substância, por deixá-la a chorar ou tão pouco por deixá-la com fome. Nós é que tivemos de aprender a ajudá-la a desassociar o leite no biberão a dormir. E foi simples. A terapeuta começou por perguntar qual era o biberão que queríamos que ela deixasse primeiro e decidimos. Também, esta era fácil: o das três da manhã, hey! Começámos a diminuir a proporção do leite em relação água até o tornar desagradável. E não é que ela começou a rejeitá-lo? Também associámos o momento de dormir ao seu inseparável amigo, depois da rotina do jantar, dos dentes, da fralda, etc. E o pequeno-almoço, ou seja o biberão a seguir ao das três da manhã que às vezes era às seis, cinco, nunca lhe seja dado antes das sete da manhã. Como é pequeno-almoço (dahh), é importante que ela não fique a dormir depois.
Escrevo estas linhas numa altura em que a Ema até nem anda a dormir tão bem, porque está doentinha, com o nariz entupido. Mas fora isso, já podemos juntar-nos ao clube dos pais com bebés que dormem. Deve ser por isto que dizem que saber é poder.
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