Uma história de adormecer princesas (ou como a terapia do sono nos salvou as noites)

Já escrevi várias vezes sobre isto mas não o suficiente. E a realidade vai mudando, claro. Tudo é mudança. Estivemos uns treze – repito: treze – meses sem dormir. Eta, bebé complicada esta. Nem sabia que era possível. Mas é. Se é. Há quem nos conte como não dormiu durante os dois ou três primeiros anos de vida dos filhos. Imagine-se! TRÊS anos inteiros sem uma noite seguida de descanso. Pensamos sempre que é exagero, claro. E, como tantas outras coisas, acontece aos outros. Até, finalmente, acontecer a nós e nos tornarmos zombies no mundo dos restantes adultos, despertos, inteligentes, com as palavras certas na ponta da língua e memórias perfeitas. Os outros adultos com cérebros impolutos e pele fresca. Nós, transformados numa sombra de quem fomos, uma soma incerta – sim, porque deixámos de conseguir fazer contas simples, e não estou a exagerar – de erros, erros e culpas. Ninguém me avisou disto. Juro. 

E pessoas que decidem ter mais filhos depois de tão medonha experiência? Isso sim, é coragem. É capacidade de resiliência e estoicismo. Não é salvar o mundo ou mudar a ciência. Não, é isto: decidir ter um segundo filho depois de uma experiência tão… difícil, sejamos honestos. Não é tudo rosas. Meeeesmo. Já para não falar na resistência, física e emocional, essencial para aguentar tão grande tormento. Ficamos com menos paciência. Para brincar, para trabalhar, para nos divertirmos, para conversar, para namorar. Para pensar. Para existir. Para sermos nós. Afinal, todo o ser humano precisa de dormir, é o adágio universal, certo? Uma necessidade básica. E para quem, como acontece comigo e com milhões de pessoas, tem problemas de sono, é pior (ainda!). 

Bem, acho que chegou o tempo do disclaimer requerido por esta história. A bem da verdade, nos últimos meses foi sobretudo o pai da criança o sacrificado, o escravo a socorrer o choro incessante da sua princesa Ema, que só parava até lhe darmos o biberão. Não apenas não parava. Ia aumentando de volume. Isto de três em três horas, como um recém-nascido. Noite após noite.

Dito isto, tentámos quase tudo, também já o escrevi: pô-la connosco na cama, mas ela esperneava. Nunca gostou. Talvez porque se mexa muito. Deixá-la a chorar, primeiro três minutos, depois cinco, sete e por aí adiante. Dizia o livro recomendado por uns amigos do Rui que, se fizéssemos a coisa como deve ser, funcionava de certeza. Mas, convenhamos, quando estamos com privação de sono, é difícil fazer qualquer coisa como deve ser. Também experimentámos afastar o next to me cada vez mais, como nos diziam os pediatras. Dar-lhe água em vez de leite (funcionou uma noite, não mais), não fazer barulho a partir do momento em que a menina ia dormir (erro crasso). Tudo e um par de botas. Até porque na primeira parte da noite, até aí à meia-noite, ela dormia. Nunca chegámos a dar-lhe melatonina, como também nos sugeriram, por não ter a certeza de funcionar e das consequências em termos de desenvolvimento. 

Finalmente, tinha já a Ema mais de um ano, o meu médico propôs-me, primeiro, mudar-lhe a alimentação à noite, e incluir alimentos com açúcares de digestão lenta, como massa ou arroz, por exemplo, para aumentar a saciedade. E… funcionou, ma non troppo. Sugeriu também outra coisa, da qual, vá-se lá perceber porquê, NINGUÉM nos tinha falado: levar a Ema a um terapeuta do sono. 

Já descrentes de tudo o que era mezinhas, num mundo em que às tantas o nosso era o único bebé da sua geração a não dormir, ainda demorámos aí um mês a seguir o conselho. Sim, foi demasiado. 

Desta vez, não era um “milagre”. Um terapeuta do sono é afinal um especialista como outro qualquer e  pô-la a dormir ia dar-nos trabalho, avisou logo a médica que ouviu todas as nossas queixas sem as secundarizar ou insinuar apenas que era mesmo assim, normal, a Ema não dormir ao fim de tanto tempo de vida.

E a verdade é que está a funcionar! Funcionou até mais rápido do que esperávamos. Uma das melhores decisões que já tomámos, só vos digo. Não passou por qualquer substância, por deixá-la a chorar ou tão pouco por deixá-la com fome. Nós é que tivemos de aprender a ajudá-la a desassociar o leite no biberão a dormir. E foi simples. A terapeuta começou por perguntar qual era o biberão que queríamos que ela deixasse primeiro e decidimos. Também, esta era fácil: o das três da manhã, hey! Começámos a diminuir a proporção do leite em relação água até o tornar desagradável. E não é que ela começou a rejeitá-lo? Também associámos o  momento de dormir ao seu inseparável amigo, depois da rotina do jantar, dos dentes, da fralda, etc. E o pequeno-almoço, ou seja o biberão a seguir ao das três da manhã que às vezes era às seis, cinco, nunca lhe seja dado antes das sete da manhã. Como é pequeno-almoço (dahh), é importante que ela não fique a dormir depois.

Escrevo estas linhas numa altura em que a Ema até nem anda a dormir tão bem, porque está doentinha, com o nariz entupido. Mas fora isso, já podemos juntar-nos ao clube dos pais com bebés que dormem. Deve ser por isto que dizem que saber é poder. 


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