13 meses de amor

Tem o sorriso mais bonito do mundo porque sorri com os olhos, neles a alma inteira. Passou mais de um ano desde aquele três de outubro em que os escancarou pela primeira vez no mundo. Eram azuis transparentes e eu pensava que os bebés nasciam com os olhos escuros. Olhou em volta e procurou-me o rosto mal saiu de mim, surpreendida com a luz fora do aconchego do útero.

Foi tudo tão inesperado que, durante algum tempo, pareceu irreal a sua chegada. A verdade é que não contava ser mãe outra vez. Surpreendeu-me o seu choro, aquela boca muito pequenina e perfeitinha, a cabeça afunilada pelas ventosas com que o obstetra a puxou de dentro de mim, os dedinhos maravilhosos que, nos últimos meses, tinham percorrido a minha barriga por dentro a responder às carícias que lhe fazia.  

Meti-a ao peito pouco depois, apenas com a ajuda do pai e porque me lembrava de como tinha feito com a irmã Gabriela, 17 anos antes. A Ema vinha com fome, e queria estar sempre na mama. Ainda hoje, comer é de longe a sua actividade preferida.

Com um mês, no preciso dia em que completou um mês de vida, sorriu pela primeira vez sem ser em sonhos. E foi para mim. Durante bastante tempo: o suficiente para o pai tirar uma fotografia.

Foi uma bebé da pandemia, da maldita pandemia que nos afastou a todos e nos encheu de medo, e isso significou ficar muito mais em casa do que o habitual. Dava para perceber que nos reconhecia, a mim, à irmã, ao pai. Aos cães, a quem hoje dá comida a rir de contente por partilhar. Ou só finge que dá e ri ainda mais, deixando-os doidos.

Passou um ano e isso é incrível, mesmo incrível. Porque a Ema já é uma pessoa, de vontades e características muito próprias. Como a irmã, tem personalidade forte.

Têm muitas diferenças: a Gabriela era mais sossegada e dorminhoca, e muito meiga. A Ema é um furacãozinho que não dorme muito e também não pára quieta um segundo. E está numa fase extremamente difícil, em desafio constante. O pior é que sei que é só o início. Até trocar-lhe a fralda se tornou uma missão quase impossível, porque se vira constantemente de barriga para baixo, de longe a sua posição favorita.

Por outro lado, é extremamente bem-disposta e ri com uma vontade maravilhosa. Também é muito observadora e inteligente e, aparentemente, generosa. Desde que começou a comer sozinha, adora partilhar os alimentos com o Tango e com a Lolita, que se põe em duas patas para conseguir chegar-lhe.

Nunca deixa me espantar o espectáculo de ver um ser humano a fazer-se. A aprender a brincar com o mundo e com os mundos que o rodeiam. Que seja o primeiro de muitos anos de gargalhadas – e elas vençam todos os desafios da vida.

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