A arte do reencontro

«A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida». Penso muitas vezes nas palavras desta letra do Vinícius. É o mais perfeita possível para falar de nós, os meros mortais. Talvez por isso esteja tão agarrada à nossa memória. A vida é a arte do encontro mas muitas vezes ele é difícil, senão impossível. Sobretudo quando se vive em cidades grandes. O simples quotidiano ou outra coisa qualquer podem demover-nos de encontrar ou reencontrar pessoas que antes víamos todos os dias, e de alguma forma fazem parte da nossa história, da nossa construção enquanto seres humanos. 

E ficam tantas conversas por ter, momentos por viver, risadas desperdiçadas. Lembranças, novas experiências, copos de vinho por tomar. É fácil isso acontecer-me. Muitas vezes, confesso, por minha causa. Por pura preguiça, porque gosto de estar sozinha, porque acho que não tenho tempo ou, eu sei lá, apenas me faltou a lembrança. Pela distância física. Ou por outro obstáculo qualquer.

Vem isto a propósito de dois reencontros recentes muito importantes para mim. Pelas palavras e conversas de muitas horas, pelas novidades, pelas ideias e até projectos: dois amigos em Castelo Branco, um que não via há meses, o outro há mais menos que 15 anos. 

E o encontro com uma amiga de Lisboa com quem almocei um dia depois e não via há anos também – desde que deixámos de trabalhar juntas. Nem é que fosse especialmente próxima destas pessoas na altura. Mas agora adorei  estar com elas, saber das suas vidas, trocar experiências. Como acontece o afastamento total da vida uns dos outros? Nem sei. Sei que viver em sítios longínquos não ajuda mesmo nada a algo que requer esforço. E, nos últimos anos, a pandemia também não veio ajudar ninguém, já sabemos. Veio piorar ainda mais as relações e as vontades, os laços de que todos somos feitos.

Mas , com algumas pessoas, saber das vidas uns dos outros, dar aquele abraço de que todos precisamos às vezes, estar apenas, vale mesmo a pena. É como ler um bom livro: requer esforço, concentração, investimento. Mas é uma das melhores coisas que levamos desta vida. O Vinícius lá o sabia.