Nove meses

Filha, já tens dois dentinhos a nascer. Não um, mas dois, em baixo, ao contrário do que previu a pediatra na última consulta! Eles sabem lá, não é? Fizeste ontem nove meses. São 18 meses da tua existência no mundo. 18 meses e um dia, hoje. Não tem sido fácil, tenho de dizer-te. Nem para ti, nem para mim. Porque pouco depois de saber que estava grávida, chegou a grande pandemia da COVID-19, que tem matado como se não houvesse amanhã. E eu trabalho numa associação relacionada – para não complicarmos muito as coisas – com saúde pública. O problema é que este vírus veio mudar toda a forma como vivemos e agora, de novo, está a transmutar-se. É o costume com os vírus, fazem tudo para assegurar a sua sobrevivência. Agora já há duas variantes, a Delta e a Delta Plus, mais contagiosas, entre pessoas com menos idade, e aparentemente mais perigosas. Parece-me que os cientistas não sabem muito bem. Como é que isto chegou ao mundo? Conta-se uma história mas eu não tenho muita certeza de ser verdade. Amo-te muito. Todos te amamos muito. Eu, o teu pai e a tua avó. São os únicos parentes próximos desde que a mana saiu de casa. E ela preocupa-me muito, sabes? O mundo tornou-se uma loucura. De medo, paranóia e maldade. Espero que, quando fores crescida, seja melhor. Que a humanidade, todos nós, já tenhamos aprendido mais algumas coisas. Neste momento, não me parece. Não me parece de todo. Estamos cada vez mais confusos, com mais medo e mais maldosos. 
E tu continuas a existir, na tua inocência, no teu sorriso maravilhoso e grande e, bem, também nas tuas exigências. Voltei ao trabalho e tive de te entregar, das 10h30 às 16h30, à tia Vera, que vive no andar de cima. Ela ri muito e tu já gostas muito dela. Ainda bem. Sei que neste momento, não haveria pessoa melhor para me substituir quando eu não posso. É isto. Continuas a crescer e a surpreender toda a gente. E nos teus dois dentinhos. A romper para me morder o nariz. Hoje, dia 4 de Julho de 2021, também já te viraste para trás na cadeirinha para trepar. E ontem rastejaste, estás quase a conseguir gatinhar. Moves-te e muito. A tua curiosidade é alucinante. E perspicácia, para mal dos meus pecados, também. Só queres estar em pé, sabes como fazer para o conseguir. Estás lindíssima. Parecida contigo mesma. Gostas também – se gostas menina – de comer. Amo-te muito, até ao infinito. Nunca mas nunca te esqueças disso, esteja eu onde estiver. E faça o que fizer. Sou muito imperfeita. Mas tento dar-te o melhor. Ainda não como eu queria, mas o melhor. Um beijo enorme da mãe que te ama.

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