Três dias
No restaurante, pela hora de jantar, as coisas não correram
tão bem. Cansadíssima e sem dormir, a Ema chorou quase o tempo todo, ansiosa pela
sua caminha. O problema é que a cama, claro, tinha ficado em Lisboa, por
isso a noite foi extremamente dolorosa, como as primeiras que passou no mundo.
Ainda antes da hora de dormir, sequer admitia perder-me de vista. Desatava a
chorar como se o seu mundo tivesse desabado, com um desgosto de meter dó. E
isso repetiu-se noite dentro. «Há crianças que estranham», disse a madrinha.
Pois, eu percebi.
No dia seguinte as coisas começaram a correr melhor à medida
que foi reconhecendo o espaço. Foi um tempo de experiências. Em três dias,
coube uma cama e um espaço novos, restaurantes ao almoço e ao jantar, a primeira
vez na piscina, o primeiro fato de banho mais fofo do mundo, o primeiro pequeno-almoço
fora, a primeira ida a Espanha. Fomos a Badajoz, claro, levados pelo anfitrião
mais querido do mundo, o senhor João, e também a Olivença, uma pouco mais
distante da cidade.
Eu e o Rui jogámos muito snooker – somos os dois maus,
felizmente – e rimos bastante. E no regresso a Ema riu ainda mais. Parecia
honestamente feliz por regressar a casa. E voltou a dormir a noite toda,
descansada com a sua boneca avó Maria.



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