Tempo

O meu amigo João faz anos hoje. E, ao ligar-lhe para parabenizá-lo, acabámos por falar da passagem do tempo. Do tempo que ainda temos para viver. Há uma fase da vida em que a nossa idade passa a ser tema. Em que, sem nos apercebermos bem como nem em que momento, deixamos de ser jovens. Passamos a ser adultos. Cotas. A ir para velhos. O corpo não se regenera com a mesma rapidez. Não temos a mesma energia. Não aguentamos noitadas. Ou abusos. Os anos pesam-nos e se nos queixamos: «também já não vais para nova».

Nós que, até há pouco, éramos os rebeldes. Éramos os injustiçados pelo poder estabelecido, os que iam mudar o mundo. Nós que tínhamos terra e mar para palmilhar, o universo para consquistar. Agora dependemos de uma boa noite de sono, alimentação que não nos caia muito mal, de uma boa série ou filme comodamente recostados no sofá. Amor e carinho e pouco mais. Percebemos que mudámos muito pouco o mundo – no nosso íntimo, bem lá no fundo, ainda vive a esperança de o conseguirmos – e que somos seres minúsculos neste universo.

Também tivemos de lidar com bem mais crueldade do que imaginávamos jovens, a sair do regaço das nossas mães. Tivemos de fingir ganhar couraça, ser indiferentes aos maus-tratos e às injustiças. Tornámo-nos bastante mais egoístas numa tentativa ridícula de nos protegermos. Porque não há protecção possível.

Há um punhado de bons amigos, como o João, uma família de pessoas que se amam e com sorte se entendem, fazermos o que gostamos. Parar um bocadinho todos os dias para nos ouvirmos. E a beleza da arte. Essa não depende da passagem do tempo.

O João é uma daquelas pessoas que parecem muito mais novas do que são, sem lhes saber determinar bem a idade. Talvez por viver com muita simplicidade o presente. 

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