"O caminho faz-se ao andar"
Voltei finalmente a caminhar. Fomos projectados para sentir essa necessidade e para ter prazer quando andamos. Libertar endorfinas, essas maravilhosas hormonas, como dizem os especialistas que gostam de dar nomes às coisas.
Detesto ginásio, devo dizê-lo. Máquinas, equipamento,
correrias. Não é a minha cena. Mas caminhar sim. Adoro. Há uns tempos li um
artigo na New Yorker sobre a importância de andar a pé na cidade. Parece que,
além de tudo, nos ajuda a organizar o pensamento e a ser mais criativos.
Quando trabalhava fisicamente no Miradouro de Santa
Catarina, ia e voltava todos os dias a pé. São pelos menos uns dez quilómetros
diários. E eu adorava. Adorava mesmo. Cansava-me mas gostava da sensação.
Com a pandemia, isso desapareceu. Estava grávida da Ema e no
início tudo era desconhecido. Apesar de caminhar ser benéfico para as grávidas
e para os seus bebés, o médico achou mais prudente naquela altura ficar em
casa. E desabituei-me, à medida que a barriga ia crescendo, de andar. Ainda por
cima vivo num terceiro andar sem elevador, o que dificultava ainda mais as
coisas. Mesmo depois de o obstetra me ter dito que já podia.
Depois de a Ema nascer, o tempo parece ter desaparecido.
Ainda por cima, com uma bebé que não dormiu de noite nos seus primeiros sete
meses. Mesmo agora, às vezes, ainda dá uma ou outra má noite. Tudo isto para
dizer que só agora voltei a caminhar. Sobretudo por causa do humor e para ultrapassar
de vez a nicotina. E é verdade. Ajuda a estar bem-disposta. Só isso mesmo, andar, sem ligar ao caminho. Afinal, como diz o poeta, "caminhante, não há caminho, o caminho faz-se ao andar".



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