Durante toda a primária, os professores
batiam-nos. Isso tornou-se banal, reciclado pela memória. Até agora. O Rui espantou-se
e insiste que tenho de escrever sobre isso. Para ele, é estranho. Recordo-me de
uma situação em que a professora Teresa, a minha preferida em pequena, me bateu
num local já magoado no rosto e eu chorei. Viviamos ainda na Foz, creio que
andava na primeira classe, e ela, pasme-se, espantou-se porque eu chorei.
Estava habituada a bater-me no rosto e eu ficar impávida e serena mas, naquele
dia, chorei. E foi esse choro que a alarmou. Resolveu falar com a minha mãe que
nem estranhou a violência. A professora Teresa achou que eu estava com algum
problema de dentes – e estava mesmo. Tive de ir, pela primeira vez, ao
dentista, que me tirou o dente, infectado e tudo. Esta é a história que
impressionou o Rui e bem. Agora, vendo-a assim escrita, talvez seja impressionante
de facto.
A professora Teresa
não foi a única a bater-me e já nos anos 80 isso não devia ser prática comum. A
professora que lhe seguiu, na terceira classe, tinha a mão ainda mais leve e um
gosto em usá-la que lembro de forma aterrada. Houve mesmo uma vez que uma
colega minha ficou a sangrar da orelha, que ela puxava sem qualquer pejo, e a
chorar baba e ranho na casa de banho da escola de Abrantes. Esta professora
gostava de dar estaladas e puxar as orelhas na escola e ser simpática na rua, o
que sempre me irritou solenemente.
O último foi o professor Eleutério, que preferia as réguas a
usar as suas próprias mãos. Apesar de tudo, dos três foi o que menos me bateu. Qual
a influência de nos baterem quando éramos pequenos em nós? Não sei. Mas fico
feliz por nenhuma das minhas filhas passar por isso.
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