Cair e levantar
A vida é feita de acidentes. De pequenas coisas que nos constroem de uma forma que, por vezes, nem percebemos de forma consciente. E isso começa bem cedo. Diz o argentino Facundo Cabral: Se a minha mãe se tivesse cuidado do meu pai, eu não existiria. É verdade. Para cada um de nós. À medida que vamos crescendo, sucedem-se os acidentes, as quedas, os prantos e respectivos consolos.
Lembro-me de uma vez cair pelas escadas do sótão da nossa casa da Foz abaixo, quando estava sozinha com os meus irmãos. E de eles ficarem extremamente preocupados e também com algum medo da reacção dos meus pais por poderem achar que não tinham cuidado bem de mim. Foi, como tantas vezes acontecia, a minha irmã quem tratou de mim. Foi mesmo uma segunda mãe. E lembro-me de outras vezes: uma em que caí enterrada em lama e magoei o braço esquerdo na tentativa de amparar-me. Estive vários dias cheia de dores até a minha mãe, ao perceber que não passava, me levar finalmente ao hospital. Tinha o pulso partido e fiquei com gesso durante um mês. O único senão era não conseguir escrever – acho que estava na primeira classe – porque era canhota. Vem daí a minha única tentativa de alterar a minha mão dominante. Felizmente, porque sou um desastre a tentar fazer o que seja com a mão direita.A segunda vez (não a última) em que um acidente me levou ao
hospital aconteceu dois anos depois, na festa de aniversário dos meus oito
anos. Andava muito feliz a correr com os meus amigos até cair e partir o braço,
desta vez o direito. A minha mãe já não esperou: levou-me ao hospital de
imediato, não sei se pelas lágrimas que me corriam sem controlo pelo rosto
abaixo, se pela experiência anterior de que deve ter ficado a sentir-se péssima por
não me ter levado logo.
A terceira vez em que levei gesso, na verdade uma pala que me mantinha o dedo indicador estendido e imóvel, sempre a apontar numa qualquer direcção, também na mão esquerda, foi a jogar voleibol e foi terrível. Doeu como o caraças.
Finalmente, era já maior quando quase-fui-ao-hospital, na sequência de uma aparatosa queda de bicicleta em que bati com a cabeça numa pedra. Foi giro. A meio da viagem, o meu pai, que odiava hospitais, decidiu que eu estava óptima afinal.
Acidentes acontecem. Sobretudo as milhares de vezes em que me estatelei no chão em pequena, e que me fizeram passar toda a infância de joelhos esfolados. Vantagens de crescer na aldeia. Ainda hoje caio muito. A Gabi também sempre foi muito distraída e de ir contra as coisas. E a Ema? Quem sai aos seus…



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