Mar de tristeza e alegria

A depressão ainda é um tabu. Infelizmente, porque muita gente podia sair dela mais facilmente, muito mais facilmente, se não tivesse receio de dizer que se sente deprimido ou que recebeu esse diagnóstico. O preconceito nem sequer é inteligente porque não diríamos a alguém com uma perna partida que está a ser fraco por não a forçar a caminhar normalmente. É claro que um cérebro deprimido não funciona da mesma forma que um cérebro sem maleitas.

Tive uma depressão quando estava na faculdade, à conta da distância da minha família, de uma relação mal resolvida, e da (brutal) falta de horas de Sol na Covilhã. E foi uma depressão grave, a ponto de a dada altura comer apenas uma maçã por dia, enquanto fumava mil cigarros, uns atrás dos outros. Entrei num estado de magreza extrema, enquanto me afundava mais e mais nos meus pesadelos. Cheguei a tomar demasiados ansiolíticos para me fazerem dormir à força e eu conseguir deixar de pensar à força. Sequer saía de casa nesse tempo. Enfrentar o mundo era um tormento demasiado.

Cheguei a este estado, que hoje acho demasiado grave, na ressaca  precisamente da medicação para a depressão, que um médico numa urgência qualquer achou por bem passar-me porque me viu chorar sem remédio. Ou seja, eu estava triste, bem triste devido a uma separação mas nem sei se estava deprimida antes de tomar medicamentos. Sei que quando deixei de os tomar de uma forma abrupta porque, na minha ignorância, achei que estava curada por me sentir óptima, caí num poço que parecia não ter fundo. Foi a minha mãe, em Abrantes, quem me ajudou a recuperar com os seus desvelos e é demasiado o que lhe devo como filha.

Já voltei a ter os meus momentos de fragilidade. Quando os meus pais morreram, por exemplo. E depois de o meu pai morrer cheguei a tomar antidepressivos um par de meses para me ajudar a lidar com a perda irremediável. Tomei-os sobretudo porque tinha uma filha para cuidar e agora sozinha ir-me abaixo não era uma opção. Ajudaram e passou, pelo menos, a total sensação de desamparo.

Dizem que pais de filhos pequenos têm menos depressões. Por não terem tempo e porque se sentem muito necessários. Engraçado como somos tão egoístas e aquilo que nos faz mais felizes é precisarem de nós e dar.

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