Mar de tristeza e alegria
A depressão ainda é um tabu. Infelizmente, porque muita gente podia sair dela mais facilmente, muito mais facilmente, se não tivesse receio de dizer que se sente deprimido ou que recebeu esse diagnóstico. O preconceito nem sequer é inteligente porque não diríamos a alguém com uma perna partida que está a ser fraco por não a forçar a caminhar normalmente. É claro que um cérebro deprimido não funciona da mesma forma que um cérebro sem maleitas.
Cheguei a este estado, que hoje acho demasiado grave, na ressaca precisamente da medicação para a depressão,
que um médico numa urgência qualquer achou por bem passar-me porque me viu
chorar sem remédio. Ou seja, eu estava triste, bem triste devido a uma
separação mas nem sei se estava deprimida antes de tomar medicamentos. Sei que
quando deixei de os tomar de uma forma abrupta porque, na minha ignorância,
achei que estava curada por me sentir óptima, caí num poço que parecia não
ter fundo. Foi a minha mãe, em Abrantes, quem me ajudou a recuperar com os seus
desvelos e é demasiado o que lhe devo como filha.
Já voltei a ter os meus momentos de fragilidade. Quando os
meus pais morreram, por exemplo. E depois de o meu pai morrer cheguei a tomar
antidepressivos um par de meses para me ajudar a lidar com a perda
irremediável. Tomei-os sobretudo porque tinha uma filha para cuidar e agora
sozinha ir-me abaixo não era uma opção. Ajudaram e passou, pelo menos, a total sensação
de desamparo.
Dizem que pais de filhos pequenos têm menos depressões. Por
não terem tempo e porque se sentem muito necessários. Engraçado como somos tão
egoístas e aquilo que nos faz mais felizes é precisarem de nós e dar.



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